(EX-QUASE)MINISTRO DA EDUCAÇÃO, O SENHOR MENTE




Prezado senhor ex-quase-ministro (refiro-me ao senhor nesses termos porque realmente não sei como fazê-lo de outra forma), assisti a sua entrevista agora, às 19h do dia 29.06.20. Preciso dizer-lhe, muito fraternalmente, que fiquei estarrecido com o nível de mentira e de embuste que o senhor habita. E digo-lhe mais: tais pulhas soam pior quando ditas pelo senhor, sexagenário, voz doce, olhar suave. Não entendo como o senhor se afunda tanto nessas inverdades que tanto mal lhe fazem mas, sobretudo, que tantos prejuízos trazem para as instituições educativas brasileiras, para os rigorosos processos de nossas universidades, para a disciplina, a metodologia e a seriedade com que todos nós, docentes e discentes, levamos adiante nossas tarefas acadêmicas. O senhor é uma fraude. Quanto mais o senhor fala, mais nossa febre sobre os degraus da vergonha.
Todos sabemos que um mestrado e um doutorado só têm valor quando e se a dissertação e/ou a tese forem defendidas. Qualquer pessoa sabe disso. Temos muitos casos de estudantes que não são mestres e doutores porque seus trabalhos foram reprovados. Se a sua mentira persistir, teríamos de entregar-lhes tais títulos? A quem o senhor quer enganar? Como o senhor vai coordenar quem conhece o terreno movediço que o senhor pisa e para o qual, permanecendo ministro, leva todos nós?
O senhor declarou não ter terminado o doutorado porque teve de pagar com dinheiro próprio as despesas de sua estadia na Argentina, porque não contou com bolsa para isso. Gostaria de informar-lhe, querido (ex-quase)ministro, que muitos de nós pagamos nossas despesas porque também não contamos sempre com o apoio do estado brasileiro. Isso acontece muito – creia-me! Nem por isso desistimos de nossos títulos. Ao contrário, temos orgulho dele, porque o diploma está marcado com o maior dos preços, o suor e o sangue que nos habilita a escrever, no lattes e em qualquer outro lugar, antes do nosso nome, na lista do supermercado... onde quer que seja, que somos mestres e doutores. Eu, meus colegas, meus alunos e alunas, temos muito orgulho disso. Eu mesmo paguei do meu bolso viagens e hospedagem para viajar toda semana a São Carlos. Trabalhei para isso. O senhor poderia ter feito o mesmo.
O senhor mentiu. O senhor plagiou. O senhor insiste na mentira. Teria sido tão digno ouvir do senhor um pedido de desculpas e um reconhecimento da seriedade que as nossas instituições merecem. Ao contrário, o senhor optou pelo pior caminho. Nesse caso, senhor, vou lembrar-lhe do ditado do meu pai, que vale para o seu caso: quanto mais mexe, mais fede.
Peço-lhe encarecidamente que, em respeito a tudo o que temos hoje no Brasil, ao reconhecimento de nossa sólida e internacionalmente invejada política de pós-graduação, que o senhor recue. Faça um doutorado de verdade. Há muitos no Brasil, certamente perto da sua casa. Vai custar pouco. Com sorte e competência o senhor consegue terminar e merecer o título. Deixe esse cargo de agora para outra pessoa. Não se humilhe tanto por esse transitório poder. A verdade, senhor ex-quase-ministro, a Verdade maiúscula, é o maior bem de um indivíduo. Se um dia ela lhe faltou, sempre é o tempo de resgatá-la. Faça isso, para o bem de toda a comunidade acadêmica e da educação brasileira. Faça isso pelo senhor.



Comentários

  1. A verdade sempre, parabéns pela bela carta, merecida de resposta. A sim desde que seja de verdade!

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