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Mostrando postagens de setembro, 2018

PEDRO, 16 ANOS, ELEITOR DO BOLSONARO. ONDE FOI QUE ERRAMOS?

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Ele não aprendeu o sentido da palavra obrigado. Não que não tivesse gratidão, mas aprendeu não se sabe onde, que esse era sentimento indizível que não cabia na grosseria cotidiana do vai e vem ríspido, duro e indecoroso. Aí, nesse meio hostil, ele esqueceu palavras boas do dicionário. Por favor e desculpas, entre elas. Não aprendeu a justificar-se, a argumentar suas razões, a dialogar fora da indelicadeza. Quis ser bruto, coisa de homem. Passou a fugir de frescuras e confortos que a vida civil exige na sua versão mais básica e ordinária. Ali, onde a mãe pode ser xingada, onde os professores podem ser agredidos, onde não existe horário a cumprir a não aquele do desejo próprio, da rotina insuportável dos calçados no meio da casa, do chão do banheiro sem secar, da roupa jogada num canto qualquer. Afinal, ele não aprendeu isso de horários, de respeitos e pontualidades. Não aprendeu que o som alto pode ser agressivo, que a aceleração da moto e a derrapagem do pneu na saída em

O DAVI ARGENTINO ESTÁ DIANTE DO SEU GOLIAS

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Davi está diante do seu Golias. Nas costas carrega uma pequena atiradeira, entre arma e brinquedo. É frágil o menino. É monstruoso o gigante. Mobilizou, contudo, a coragem dos grandes guerreiros com a inocência própria das crianças que ainda não provaram o perigo. Com esses dois mistérios (coragem e inocência) olhou nos olhos do gigante. Mediu-lhe de alto a baixo. Diagnosticou suas entranhas até diluir qualquer um dos seus pavores na oleosidade de suas mãos quentes, apropriadas para o golpe decisivo. Ali, parado diante de seu algoz, Michelângelo encontrou também aquele menino-rei. Cavou-lhe o semblante na pedra branca, cheio daquela temeridade de quem se prepara para o ataque. Michelângelo também buscou a coragem e a inocência do menino, ao contrário de outros artistas que preferiram retratar sua vitória. Em Florença, o menino alto e cabeçudo, ainda não ganhou a batalha. Prepara-se para ela. Está cheio das incertezas, das tensões e das esperanças próprias de quem ainda tate

CARTA A MEU IRMÃO, COM SAUDADES

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“Que a morte nos encontre plantando as nossas couves,  indiferentes à sua chegada e mais ainda ante as nossas hortas inacabadas”  (Michel de Montaigne)      Oi Vando, como vai de glória? Hoje faz um ano que você passou para a eternidade. Deve ser bom viver em um tempo sem tempo. Coisa estranha, você sabe, para quem fica. Nós aqui estamos lidando com a ferida. Ainda arde na pele o vazio de não ter você entre nós. Ao redor, às vezes, tudo fica nebuloso e escuro. Um mar se forma no olho. A gente perde o chão. O coração aperta como se murchasse subitamente, numa dor indizível. Mas a gente resiste, enquanto espera o nosso reencontro. E a gente fica com o melhor de nossas vidas juntos. As horas de alegria, as festas, as conversas à beira do fogo, os planos, as fantasias de infância, os amores conjuntos, os sorrisos, as músicas que você gostava de cantar. A gente gosta de lembrar de tudo, para esquecer a ausência e a saudade. Cada um de nós leva um pouc