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JOÃO XERRI, O OLHO DA UTOPIA

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  João era um homem encíclico. Nele as mínimas coisas se vinculavam a causas maiores, em contornos sempre novos e surpreendentes. Ele tinha a arte da conexão, das linhas e das redes, dos círculos de amigos que se conectavam, que ele agregava e interligava em muitos laços e articulações em nome das grandes utopias que o mobilizavam e colocavam em ação. João era um homem centrífugo. Tudo o que lhe chegava às mãos, ele espalhava, divulgava, fazia grandioso. Sua inteligência, sagacidade e cultura eram admiráveis e se somavam ao exercício da crítica, à sobriedade das ideias e a uma fé lúcida e equilibrada, na melhor versão da tradição dominicana que ele celebrou em vida e que remonta a Domingos, Las Casas, Montesinos e Frei Tito de Alencar. Quando o vi pela primeira vez, em 1990, senti uma inquietação terrível, nascida das ideias que ele professava e do jeito de comunicá-las, que aliava uma voz rouca e potente, um sotaque peculiar, um gestual sólido e um coração infantil que parecia não com