SOU PROFESSOR COM ORGULHO. QUERO UM PROFESSOR NA PRESIDÊNCIA.








Quando eu era criança, dava aula para meus irmãos. Eu escrevia com carvão em tábua velha, no fundo da casa, algum tipo de palavra doce, que fazia muito sentido para nós. Depois, quando fiz cinco, passei a frequentar a escola Magalhães Filho, em Giruá, interior do Rio Grande do Sul e gostar ainda mais daquela profissão. Gostava do cheiro do álcool dos mimiógrafos, dos livros, do respeito com que todos se dirigiam aos mestres. A vila inteira cultuava aquela gente guardiã do futuro que estava guardado no olho dos meninos. Lá quase tudo acontecia na escola: das festas mais importantes, aos atos políticos e culturais. Eu gostava de tudo.

Um dia, pelos sete anos, conheci minha professora Maria. Ela era negra e isso não era coisa à toa no meio de uma comunidade de origem alemã. Maria tinha uma caligrafia exemplar e durante muito tempo eu escrevi como ela aquelas lições de respeito e admiração. Desde então, acumulei bons mestres. Tenho tantos exemplos de gente boa, inteligente e crítica que me ensinou a ser quem eu sou por meio de suas aulas e de seu testemunho... Com eles aprendi não apenas sobre história, ciências, literatura e filosofia, mas sobre vida, sobre ternura, tolerância e empatia. Seria capaz de enumerá-las uma a uma, essas pessoas com brilhos nos olhos, do primário ao pós-doutorado.

Sempre gostei da escola, como um lugar de tensões, de aprendizagens e, sobretudo, de relações. A minha escola primária tinha tudo o que eu queria que a sociedade fosse: dos jardins e das hortas aos espaços de debate e de manifestação cultural. E quem orientava tudo isso eram essas pessoas cujas vidas sempre me pareceram tão inspiradoras, as professoras e os professores.

Nessa hora em que o fascismo ameaça as mais importantes bases da nossa civilização, é tempo de reafirmar o valor da escola e desses profissionais. Agora mais do que antes, tenho orgulho de ter me tornado professor e de entender as coisas que entendo e que me levam a tomar as posições políticas que tomo, com afeto mas, sobretudo, com discernimento. E são essas ideias que agora me ajudam a reconhecer no professor candidato um professor presidente. Por isso eu vou estar na primeira fileira para assistir a sua aula mais importante: a da democracia.

Com uma carteira de trabalho em uma das mãos e um livro na outra.




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