POR QUE EU ESCREVI UM LIVRO SOBRE A ALEGRIA?





Hoje, 10.03.17, Marcella Lopes Guimarães e eu lançamos o segundo volume da Coleção Café com Ideias, cujo título é “Diálogo sobre a alegria”. Quando a gente começou a conversar, logo nos veio à mente a pergunta sobre a atualidade desse assunto: não seria insano ou alienado falar de alegria em uma época de tantas tristezas e tragédias humanas? A pergunta carregava também, provavelmente, aquele velho preconceito contra a alegria, típico dos que acreditam que o riso é abjeto e equivocado, enquanto o drama é mais digno diante da condição humana que, como todos sabemos, é marcada por estorvos capazes de desanimar qualquer um de nós.
Foi justamente essa perspectiva que me animou nesse projeto. Eu escrevi sobre a alegria, primeiro, porque eu tinha uma companheira de conversa, com quem partilhei os desafios e as esperanças desse tema, da arte da escrita, da forma de abordagem e, principalmente, da compreensão e cumplicidade indispensáveis para quem quer conversar e escrever conjuntamente. E porque dialogar é uma urgência. Mas eu escrevi sobre a alegria, também, porque esse tema torna possível uma nova interpretação de antigos temas que frequentam a filosofia de meus autores prediletos, entre os quais está Nietzsche, cuja obra poderia muito bem ser costurada com o fio condutor da alegria, a começar pel’A Gaia Ciência, esse conhecimento alegre e por Assim Falou Zaratustra. A alegria é a minha oportunidade para revisitar a filosofia que eu leio, que eu gosto e que, por isso, me alegra. E ao fazê-lo, faço como quem volta à fonte com a lição de Heráclito: sabendo que nesse leito, a água nunca é a mesma.
Eu escrevi sobre a alegria não apesar da tristeza, mas justamente por causa ela. Porque a alegria é uma forma de resistência contra os sistemas que fabricam as tragédias cotidianas de milhões de pessoas ao redor do mundo. Porque ela é um impulso vital capaz de nos tirar da passividade, da descrença e da desesperança, para retomar as batalhas que são nossas, no cotidiano. E porque pensar sobre essa força maior, é tanto se preparar para enfrentar as tristezas quanto uma forma de combater a estéril obrigação da alegria, vendida nas vitrines dos shoppings centers e popularizada nas propagandas de margarina.
Eu escrevi sobre a alegria porque essa é uma forma de arejar o pensamento. Eu escrevi sobre a alegria porque, sendo necessária, ela está em falta. Porque seu sentido se perde facilmente e precisa ser resgatado. Porque nem tudo está perdido. Porque zombar do sistema é uma forma privilegiada de combate. E porque, às vezes, o riso é uma resposta adequada às estruturas que propagam a seriedade como regra para tirar benefícios da dor alheia.
Eu escrevi sobre a alegria, sobretudo, porque gosto de estar entre amigos, de festejar a vida na sua intensidade, de entregar e receber flores e vinhos. Eu escrevi sobre a alegria porque ela está na minha agenda diária como meta e porque eu desejo que nossas vidas sejam lubrificadas por dias ensolarados de necessidades e desejos satisfeitos.
Obrigado à PUCPRESS por apoiar esse projeto. Obrigado à Marcella pela honra da amizade e da parceria. Obrigado aos familiares, amigos e leitores, pelo incentivo e reconhecimento.




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