MEU NOME É COM JOTA



“Meu nome é com J”. Desde criança esse rifão me acompanha. Fico até sem jeito.

A décima letra foi a última a entrar na família do alfabeto latino. Nos teclados - pouca gente repara – ela está sempre assinalada em relevo, para projetar (ou dirigir?) a escrita de tudo. Em alguns vocabulários, tem função de I, como em Ivan, meu pai, que um dia, em algum lugar, já foi João. Ou como Jonas, o Hans, que eu estudo há tempos. No espanhol, vive se complicando entre um G, um X ou um simples R. Em francês teve dias de glória como em Savoja. Mas já caiu de moda. J tem suas antiguidades.

Então. Tem gente que acha difícil, mas é Jelson, como é jipe e como é jiboia e também pajé. J tem muitas complexidades. No jirau e na berinjela, então, é sempre um Deus nos ajude! Tem gente que cria até ojeriza e recusa a diversão. Com J, meu nome é recusado nas prateleiras. O corretor automático sublinha de vermelho. O moço do banco não acha a ficha. O documento não chega jamais.

O J, contudo, é uma joia - eu testemunho. Ele enfeita o jirau com um brilho único. Vive nos joelhos dos jogadores e dos jóqueis. É bem esportivo, quando quer. Sendo atual, é hoje. Usa jeans até, posto que é jovem. Em janeiro, é o primeiro do ano. Em julho já é férias e a gente nem vê que junho, apesar do inverno, passou ligeiro. Vai a jato do Japão para a Jamaica. E ainda passa em Giruá, que devia ser jerivá, minha cidade natal. Viaja livre, granjeia. E está nas cerejas e nas laranjas. Faz mandinga e canjerê. Jura que é palatal. Fricativo e sonoro.

E como pra me gabar: quem tem seu nome lembrado em carta de baralho? Tudo bem: o valet é empregado, mas a gente tem humildades. Finalmente, Joãos e Josés são os nomes mais populares do mundo... E nome de imperador? Justiniano deu esplendor a Roma ao lado de Teodora, uma dançarina prostituta que chamou de sua. E com Deus, alguém guardou afinidades? No meu nome tem Javé e tem Jeová. E só não tem Gerson, aquele filho de Moisés (que na sarça, perguntou o nome, inutilmente) porque garfo é palavra feia (isso é para os fortes!). Por isso cuidado: assim, na lata, “J nenhuma” também é patavina. Humildade tem seus limites! A gente não veio pra brincadeira. Gentileza não insistir. Com geleia também não. Vamos ser ajuizados. O blog é com J porque a gente não é, mesmo que gente seja difícil - como é difícil um J. Gente é sujeito de muitas conjugações... Bora ser coruja pra cogitar um pouco? Tem jeito?


PS.: Não. Eu não gosto de jiló.





Comentários

  1. Oi Jelson! Adorei o novo canal... e do texto inicial também ☺. Boa iniciativa!! 👏👏
    Pedro Almeida

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  2. Oi Jelson! Adorei o novo canal... e do texto inicial também ☺. Boa iniciativa!! 👏👏
    Pedro Almeida

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  3. depois deste elogio ao J, passei até a gostar do José que existe entre o meu nome e sobrenome.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Muito criativo...parece uma boa fase, abraço

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  6. Adorei e me identifiquei. Aproveito para convidá-lo a visitar meu blog: baterdasasas.blogspot. com.br

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  7. Que bom, amigo e irmão Jelson!
    Ampliando e alimentando os canais de comunicação. Seja muito feliz!Abraços daqui do sul do mundo.

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  8. Adorei a ideia! Surpreendendo com simplicidade e muita criatividade!

    Abraço

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Obrigado meus amigos/as. Que bom que gostaram.

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  11. Ah maravilha! Assim a gente sente mais pertinho de você!

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  12. Quando li uma resenha sobre seu livro: " A solidão como virtude...", gostei muito e comecei a procurar pelo livro nas livrarias online,mas não encontrava, pois grafava seu nome com "G" (desculpa!), até que voltei à resenha e observei seu nome com "J". Aí te encontrei!P.s.: Eu também não gosto de jiló...

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