5 DE JUNHO: O DIA DO MEIO AMBIENTE DEVE SER O DIA DA RESPONSABILIDADE




(Imagem: Said Dagdeviren)



O rio da minha infância secou. A cisterna onde minha vó tirava água de balde está cheia de entulho. As lavouras da redondeza, antes ricas de alimentos, deram lugar ao deserto da soja, seus venenos e maquinários. Tudo murcha e seca quando o avião passa com sua nuvem mortal de vapor envenenado. Perderam-se as hortas e as sementes. Animais são criados com rações ricas em hormônio, presos e sem vida. Seus dejetos poluem tudo ao redor, inclusive as águas das alfaces, que também inunda o ventre dos peixes. Tudo corrosiva peçonha.

Depois, há mais de 2 mil quilômetros ao norte, ajudamos a matar o cerrado tocantinense. Gaúchos migrantes, assoreamos outros rios, quebramos florestas, matamos animais de terra, água e ar. Abrimos estradas, cortamos, queimamos, devastamos. Tudo em nome de um desvirtuado progresso, patrocinado pelos governos, que promoviam a dizimação como benesse.

Quase nada mais restou no chapadão imenso. Encontrar alguma avestruz ou veado, algum jacaré ou sucuri, araras e papagaios, é mais que raridade. Avistá-los, agora, transformou-se em quase milagre, como se víssemos algo sagrado, pequenos sobreviventes ameaçados de extinção. Existiam aos milhares.

Construímos barragens no rio que fornecia o peixe. Peixe já não há e pescadores vivem à míngua. Sob a água, pouco de move além do lodo e das toneladas de plástico e outros detritos espalhados pela paisagem sem nenhum pudor. As águas, espumosas e adoecidas, carregam metais pesados dos garimpos, oleosidade de motores, azeites de mortes sem ressureição.

Agora que está quase tudo extinto, que as chuvas demoram a voltar, que as secas são mais intensas e frequentes, que o ar está mais aquecido do que nunca, mais poluído do que nunca, agora que as tempestades ventam mais violentas, que os insetos são mais pavorosos e as pragas mais intermináveis, conhecemos nossa culpa. Alguns de nós continuam, contudo, sua sanha de ecocidas. Agora, como ontem.

Mas é agora também, quando a vida se revela em perigo, espécies de plantas desaparecem diariamente e animais magníficos, como girafas e rinocerontes, entram em extinção... é agora, diante do risco de que nós mesmos, adoecendo de câncer e outras doenças civilizatórias, é agora, não depois, não amanhã, agora, hoje, todos os dias daqui em diante, é então que precisamos assumir a nossa responsabilidade.

Agora, isso significa não apenas optar por uma vida individualmente responsável, mas lutar contra a política de destruição ambiental que está sendo implementada pelo atual governo. Nunca, jamais, nenhuma vez, em nenhuma circunstância, vivemos algo tão irresponsável e danoso. Nunca o meio ambiente esteve tão em risco. Jamais nossa responsabilidade foi tão urgente. Hoje, agora, daqui em diante, para sempre, para que haja amanhã para todas as espécies - inclusive a humana.






Comentários

  1. Jelson, obrigado pelo texto.
    Tenho pensado muito em como agir diante dessa situação. Temos 12 anos para impedir que o planeta aqueça mais do que 1,5 graus Celsius. A situação é urgente! Menos (ou nenhuma) carne, carro, industrializados e outras benesses do mundo moderno já estão na roda daqui de casa há um bom tempo, mas como sair do âmbito individual?

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