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Mostrando postagens de setembro, 2017

GAY NÃO PRECISA DE CURA, MAS DE RESPEITO

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Acho que o sentimento não é só meu: às vezes a gente acorda cedo e parece ter recuado milênios no tempo e milhares de quilômetros no espaço. A notícia de hoje, por exemplo, me levou para os piores dias da Idade Média ou para algum país como a Mauritânia, o Sudão ou a Arábia Saudita, onde a homossexualidade ainda é punida com pena de morte. Isso se chama retrocesso. E suas causas são a desinformação, o preconceito e a discriminação que costumam grassar facilmente com ajuda das canetas de magistrados brasileiros, filhos da elite que sequestrou um dos poderes da pátria para a defesa de seus privilégios. A decisão da justiça do Distrito Federal, que libera os psicólogos a tratarem a homossexualidade como doença, é desses sinais desoladores de que o Brasil está mesmo no caminho errado. Sobram incongruências e leviandades quando a justiça se rende aos interesses de pessoas moralistas e fundamentalistas que, como em tempos sombrios do passado, pregam purismos à revelia do

UM MENINO DE MIL OLHOS

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Quando o Vando chegou, nas terras antigas das missões gaúchas, os butiás começavam a florir à espera do verão. Outubro se erguia vigoroso sobre os telhados da Vila Hortêncio. À rua Zildo Eisman, entre a hípica e o carmelo, a gente cresceu livre. Quando era frio, o gelo dos campos quebrava sob os nossos passos depois da longa geada, até que o calor do sol varresse as neblinas para longe, como era costume. Nessa época a gente já brincava de viajar, agarrados pelas camisas: o Vando na direção, a Luciane com o Tito no colo, eu agarrado atrás. A gente ainda não sabia, mas ensaiava o grande destino da família. Um dia um caminhão encostou em frente à nossa casa e alguns homens carregaram a nossa mudança, enquanto minha mãe pedia cuidado com os móveis da cozinha. A gente viajou três dias. A gente não sabia o destino. Vando dizia que estávamos indo para Florianópolis. Na dicção das crianças, Figueirópolis ainda era um vocábulo indizível. Meu pai ria às gargalhadas. A gente só via est