APROVEITE A PANDEMIA E CONSERTE A VIDA. E JÁ QUE É PÁSCOA, RESSUSCITE.
Aproveite a época e leve a vida para o conserto. Agora, que tem
tempo, aperte novamente os parafusos. Torça cada um deles com o vagar das
grandes tarefas. Azeite as juntas e troque todos os óleos do motor interior, há
tempos carcomidos pela poluição da pressa e pela corrosão das velocidades.
Aproveite e revise as engrenagens, seque os excessos e infunde silêncio onde
tudo era rumor de engenho e agudo de buzinas. Aproveite e limpe os tímpanos, as
vias respiratórias, as oleosidades interiores. Espiche os dedos dos pés e
lembre que tem, por dentro, uma maravilhosa armadura de ossos, tecidos e nervos.
Limpe a poeira dos olhos, lacrimejados dessas nódoas de passado incerto e
ressentimentos não esquecidos. E, claro, lave as mãos de todas as culpas,
porque nada pior do que carregar cadáveres de outras épocas em tempos de
pandemia.
Estacione. Pare por alguns instantes, aproveite o cansaço
como único grão de certeza. Detenha-se diante das suas janelas e alongue o
olhar o máximo possível. Isso ajudará a ver melhor o que está perto e, com
sorte, talvez você possa enxergar o que antes estava invisível – acredite: há
muito para ver. Dê lugar para a lentidão e a persistência que você perdeu
durante todos esses anos: dentro de casa, você pode dar atenção plena à duração
e ao processo, recalculando o valor das coisas (valor, não preço!).
Afinal, você já sabia, todos nós sabíamos, que o mundo
estava demasiado. O esgotamento e a exaustão espalhavam-se por todo canto. A
superprodução e o hiperdesempenho proliferavam em cadeia, amortecendo as
sensibilidades. O tempo era do plano e do raso que é onde todo vírus gosta de
estar. Sujos e artificiais, estávamos propícios para a enfermidade, inquietos e
sem repouso.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche destacou essa
“intranquilidade” como sintoma da era moderna e a marca do tempo de agitação “que
se torna tão grande que a cultura superior já não pode amadurecer seus frutos”.
“É como se as estações do ano se seguissem com demasiada rapidez”. Ele tinha razão:
não sabemos mais esperar pelo amadurecimento dos frutos...
Por isso, Nietzsche mesmo escreve: “entre as correções que
necessitamos fazer no caráter da humanidade está fortalecer em grande medida o
elemento contemplativo“ (Humano demasiado
Humano, 285). Foi também Nietzsche que deixou claro a divisa do tempo: “aquele
que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja:
estadista, comerciante, funcionário o erudito”.
Chegou o tempo da liberdade, que nasce agora da lentidão
doméstica. Aproveite! Não podemos sair da peste, como alertou Camus, sem
modificar o nosso coração. Isso demanda tempo. Assuma o que é seu.
Quando seu sorriso estiver calmo de novo, delicado e indevassável acima do fluxo no qual você boiava incompreensível, transforme isso tudo num beijo e deposite nas superfícies todas, como quem fecha abismos. Incline-se ao chão e veja as divindades cotidianas que você foi capaz de parir nas suas andanças.
E já que está nisso, ressuscite!
E já que está nisso, ressuscite!
Feliz Páscoa.
Perfeito!!
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirIrretocável! Feliz Páscoa a todos os sentimentos acões e palavras que possam renascer e capacitar o homem a se reinventar mais feliz.
ResponderExcluirObrigado. Feliz Páscoa.
ExcluirPalavras que comovem o coração colocando -o no lugar que ele jamais deveria ter saido: A razão de ser em si e no outro. Isto é: cuidado! Feliz Páscoa meu caro Jeslon.
ResponderExcluirObrigado meu amigo.
ExcluirEsse tempo devemos aproveitar o máximo para buscarmos um futuro melhor para nos e os outros...!!!
ResponderExcluirParabéns pelas palavras
Um forte abraço
Feliz Páscoa
Isso mesmo. Feliz Páscoa.
ExcluirLINDO TEXTO. OBRIGADO !
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirExcelente! Perfeito!
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirJelson, fiquei encantado com a profundidade de suas palavras. Cara, vc é muito bom! Um grande abraço!
ResponderExcluirMarcos
Eita Marcão... vindo de você é um grande elogio. Muito obrigado.
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