POSSO IR NA MISSA ARMADO, COMUNGAR E DESEJAR PAZ AOS MEUS IRMÃOS?
Hoje eu vi a foto dos padres defendendo
a posse de armas de fogo por parte dos cristãos. Confesso que fiquei constrangido
e indignado. Um dos rapazes foi meu aluno. Ele não entendeu nada. Não entendeu o
que há de mais central na filosofia: a capacidade da razão, do diálogo e da
arguição, que estão no lado oposto da força. Ele não entendeu as lições sobre
os valores, as virtudes, a solidariedade, a paz e a justiça. Nem sequer parece
ter entendido a mensagem de Jesus, a quem ele diz seguir; nem do Para
Francisco, a quem ele deveria obedecer. Nunca deve ter ouvido falar de Gandhi,
Martin Luther King, Dalai Lama. Será que leu o novo testamento esse rapaz? Leu
bem lido ou de forma fundamentalista? E aquele papo de paz que se reza na
missa, é tudo mentira? Será que viu os números da violência ou estudou
seriamente algum texto que explique os perigos das armas?
Não é novidade que o Brasil é um país
líder em homicídio no mundo. Vivemos uma guerra civil que torna o problema da
violência, uma verdadeira calamidade. Morrem 30,3 pessoas em cada 100 mil por
ano, enquanto a taxa mundial é de 10 a cada 100 mil. Metade dos mais de 60 mil assassinatos
em 2016 foram de jovens entre 15 e 19 anos, a maioria do sexo masculino, a maioria
negra. De cada 10 homicídios no país, 7 são por arma de fogo, índice considerado
o triplo em relação à Europa, por exemplo, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. Todas as pesquisas indicam que a difusão das armas de fogo tem sido o
motivo do crescimento desses dados. Brigas banais, desavenças no bar, comentário
maldoso nas redes sociais, desentendimento na escola, discussão no trânsito,
disputas afetivas... episódios banais na vida de qualquer pessoa são motivos
para que um disparo seja realizado. E temos ainda as famosas balas perdidas e
os acidentes domésticos que, nos Estados Unidos, mataram 1.300 crianças (até 14
anos) por ano, entre 2002 e 2014 (pesquisa do CDC, órgão ligado ao governo
norte-americano), deixando mais de 6 mil feridos.
A facilitação da posse de arma,
uma das principais promessas do novo presidente, coloca em risco o cidadão
comum, no geral despreparado e sem condições psicológicas para atuar diante de
um ocorrido inesperado ou face a um criminoso que tem mais domínio da situação e
mais preparo para o uso do artefato. Perde o cidadão, que tenta,
desesperadamente, fazer o serviço que a polícia deveria fazer. Ganha o bandido,
que encontrará a maior parte das pessoas despreparadas enquanto ele continuará ostentando
seus instrumentos, quem sabe agora de forma legal.
Ao incrustar na cabeça de seus
eleitores a necessidade de flexibilização da posse de armas de fogo, o
presidente tem dois objetivos: contribuir com os lucros das empresas que vendem
armas no país e eximir-se da verdadeira política de segurança pública que
precisamos: uma polícia séria, bem paga, bem treinada e inteligente. Não se
trata, portanto, apenas de ser contra a arma em si mesma, mas de ser contra o
seu uso por parte do cidadão comum, ser contra a sua liberação. Só pessoas
especialmente vocacionadas e preparadas para isso deveriam, em uma sociedade
civilizada, estar autorizadas para possuir um desses objetos. Cabe ao estado o uso
da força e isso não pode e não deve ser transferido para os cidadãos. Porque, ao
contrário do que se diz, o porte de uma arma não é a civilização, mas a barbárie.
Ela não anula a disparidade da força, como muitos alardeiam, mas aumenta o
fosso entre os cidadãos e os bandidos. E ao contrário do que se acredita, se as
armas continuarem criminalizadas e se o governo investir no controle de sua
venda e combater seriamente o tráfico, os criminosos terão mais dificuldade
para obtê-las. E nós poderemos finalmente ir na missa do padre sem nenhuma arma
na cintura.
Parabéns prof Jelson pelo excelente e esclarecedor texto. Tenho dito que a posse de arma de fogo será a desgraça de muitas famílias e de muitas pessoas!
ResponderExcluirTem gente que é favorável a liberação da maconha!
ExcluirE contra a liberação da "posse" de armas?
Não é por liberdade que VCs militam?
Parabenizo pelo artigo. Bastante esclarecedor. No mesmo tom, deixo aqui o meu lamento, ao estarmos vendo tantos cristãos (inclusive clérigos) justificando essa cultura de morte, que em nada acrescenta à sociedade nossa busca pelo Bem Maior.
ResponderExcluirÓtimo texto!
ResponderExcluirNão! !!! Na Missa, não. Podes ir à Cultos na Assembléia, Universal e outras denominações religiosas. A Missa é a representação da Paixão de Cristo e Cultos, são ardis pra tirar $ de pobres .
ResponderExcluirParabéns pela colocação. Infelizmente nosso Brasil precisa que Jesus volte logo.
ResponderExcluirAlguns textos bíblicos apoiam o porte de arma para civis?
ResponderExcluirMuitas pessoas, para negar as evidências bíblicas contrárias ao porte de arma dos cidadãos “comuns”, descontextualizam Lucas 22:36. Vamos ver o contexto:
“35 Então Jesus lhes perguntou: ‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’ ‘Nada’, responderam eles.
36 Ele lhes disse: ‘Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma.
37 Está escrito: ‘E ele foi contado com os transgressores’; e eu lhes digo que isto precisa cumprir-se em mim. Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir’.
38 Os discípulos disseram: ‘Vê, Senhor, aqui estão duas espadas’. ‘É o suficiente!’, respondeu ele.”
(Luca 22:35-38, NVI)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDesculpas o erro de escrita JESUS NÃO ACEITA SER DEFENDIDO PELA ESPADA. Lucas 22,48-51.
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