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Mostrando postagens de julho, 2019

O PRESIDENTE E SUA CLOACA IDEOLÓGICA

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No seu famoso poema “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meirelles repete incansavelmente o verso que canta o poder da palavra: “ai palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa”. Ela trata da fala que condena, do veredito final de um enforcamento, do poder que a palavra tem de gerar vida e de gerar morte. A poetisa, nesse caso, recupera longa tradição dos que reconhecem a potência da fala como uma das características ontológicas do ser humano, porque ao falar, homens e mulheres projetamos destinos, produzimos mundos.  A palavra, sobretudo, é instrumento político. Foi com ela que a democracia ganhou corpo na Grécia. Foi por causa dela que autores como Aristóteles e Platão estabeleceram a identidade do homem como animal político. Ela é arma de disputa e de controvérsia em busca de consenso. Habermas a valorizou tanto que sua teoria do agir comunicativo parte da afirmação do seu poder transformador. A palavra, como política, é transformadora de realidades. Com as bi

ME DEIXA PASSAR, POR FAVOR

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Foto: Jose Luis Gonzalez/Reuters O choro desesperado da mãe gualtemalteca e seu filho Anthony diante dos soldados norte-americanos  armados é o símbolo máximo da desigualdade social. Ela vive na parte pobre de uma mesma geografia. Dois mundos divididos pela injustiça, pela miséria, pela exploração e pela falta de oportunidades. Uma mesma América, dois tipos de vida. Abaixo, os pobres choram com aquela senhora não só porque queiram acessar a vida dos ricos do outro lado, mas porque, atravessando a fronteira, querem servir-lhes. Preferem isso, a sofrer com a falta de esperança. Para isso, tentava vencer as dívidas.  Ela não estava sozinha. Antes dela, o salvadorenho Oscar Ramirez e sua filha Valéria morreram afogados enquanto tentavam a travessia. Nunca se construiu tantos muros para dividir esses dois mundos. Na Turquia com a Grécia, entre as duas Coréias, entre a Espanha e o Marrocos, entre tantos outras divisões, esses muros negam aos seres humanos o que foi canta

MIL QUILÔMETROS DA FLORESTA AMAZÔNICA DERRUBADOS EM QUINZE DIAS. O ECOCÍDIO POR TRÁS DOS NÚMEROS.

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(FOTO:  Rircardo Stucket) Por trás dos números, morre a floresta, espécies de árvores, flores, verdes de todos os tipos. Morrem os micro-organismos, os insetos, as aves, os mamíferos. Morrem os peixes, as espécies aquáticas todas. Secam as vertentes. O barro enrijece, o lodo quebra em securas desérticas. O que rasteja, queima sobre a areia pobre em nutrientes, por trás dos números. O que anda, vaga sem achar comida, seguido de seus filhotes magros de fome. O que voa, perde-se no horizonte de fumaças e poeiras ardentes enquanto o presidente relativiza, mente, critica e esconde os números. E morre o índio, faminto, sem terra, sem floresta, sem mundo, por trás dos números. Morre o ribeirinho, sem peixe, sem chuva, sem água. Morre a mulher sem coco, sem forças, sem nada - até sem número. Morre o seringueiro, sem árvore e sem futuro. Morre o pequeno agricultor, sua mulher e os filhos, envenenados pelos agrotóxicos da grande fazenda que cresce esparramando as divisas em to