O ANALFABETO ECOLÓGICO






O pior analfabeto é o analfabeto ecológico. Ele não ouve, não entende, não estuda mas mesmo assim critica, censura, reprova e toma posições em relação à crise ecológica que afeta o planeta. Ele não sabe quantas vidas são extintas diariamente devido ao aquecimento global, desconhece a causa dos incêndios ao redor do mundo, não acredita no esgotamento da água doce ou na morte dos oceanos, nega as evidências da poluição dos ares, fecha os olhos para o crescimento das doenças do clima e fala de boca cheia a respeito das benesses do progresso moderno, ignorando todos os seus problemas. 

O analfabeto ecológico acha que nenhuma dessas questões depende de decisões políticas. Ele não se interessa pelas políticas ambientais do governo, aprova sem ressalvas a ação dos grileiros e latifundiários, detesta os indígenas e as demais populações tradicionais e, com ares presunçosos de quem prova o improvável, toma diariamente a sua dose diária aceitável de veneno, celebrando a expansão do agronegócio nacional.  

O analfabeto ecológico é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a ecologia e que a emergência climática é uma invenção dos países ricos para impedir o desenvolvimento dos países pobres. Como todo ignorante, ele, coitado, simplifica tudo, porque só pensa de forma binária. Ele acredita tanto em teorias da conspiração, que nega os dados científicos e propaga fake news tão perniciosas quanto a sua própria estupidez. Ele ironiza e faz campanha contra os ambientalistas e pode até pagar pelo seu assassinato. Não sabe o imbecil que, com a sua ignorância, morrem sete milhões de pessoas anualmente por causa da poluição e que nos últimos quarenta anos a humanidade exterminou 60% dos animais da terra e que no mesmo período, na América do Sul, 89% de todos os animais formam extintos. 

Sentado no seu lixão de entulhos indigeríveis e petulâncias insuportáveis, ele apoia políticos negacionistas e, não raro, torna-se ele mesmo um deles, para exaltar outros vigaristas e rodear-se de pilantras, corruptos e lacaios de empresas nacionais e multinacionais que pretendem impedir o avanço da luta ecológica, algo que colocaria freio à sua insolente voracidade.


Jelson Oliveira

(sobre o irretocável O analfabeto político, de Bertold Brecht)

PS. Por sugestão do meu amigo Roberto Malvezzi, Gogó, devo acrescentar que o analfabeto ecológico é uma versão do analfabeto político.



Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

CARTA A MEU IRMÃO, COM SAUDADES

O POMPIDOU DE PARIS É UMA CAVERNA PLATÔNICA: sobre as ilusões de Magritte*

UM ELOGIO À CALVÍCIE