MIL QUILÔMETROS DA FLORESTA AMAZÔNICA DERRUBADOS EM QUINZE DIAS. O ECOCÍDIO POR TRÁS DOS NÚMEROS.




(FOTO: Rircardo Stucket)


Por trás dos números, morre a floresta, espécies de árvores, flores, verdes de todos os tipos. Morrem os micro-organismos, os insetos, as aves, os mamíferos. Morrem os peixes, as espécies aquáticas todas. Secam as vertentes. O barro enrijece, o lodo quebra em securas desérticas. O que rasteja, queima sobre a areia pobre em nutrientes, por trás dos números. O que anda, vaga sem achar comida, seguido de seus filhotes magros de fome. O que voa, perde-se no horizonte de fumaças e poeiras ardentes enquanto o presidente relativiza, mente, critica e esconde os números.

E morre o índio, faminto, sem terra, sem floresta, sem mundo, por trás dos números. Morre o ribeirinho, sem peixe, sem chuva, sem água. Morre a mulher sem coco, sem forças, sem nada - até sem número. Morre o seringueiro, sem árvore e sem futuro. Morre o pequeno agricultor, sua mulher e os filhos, envenenados pelos agrotóxicos da grande fazenda que cresce esparramando as divisas em todas as direções - fora dos números.

Morre, sobretudo, a criança ainda não nascida, carente de tudo, carente de vida, carente de futuro. Morre o futuro, redesenhado pela política da ganância, que questiona os dados para evocar o diabólico das mentiras sem nexo, inquestionadas por quem se dizia, até ontem, defensor da pátria. Morre a pátria, por trás dos números. Porque, afinal, que pátria sobreviveria, sem o povo e a geografia, sem a floresta e as suas vidas? Que pátria haveria feita de números falsos, fake news diárias, ataques e outros ódios? Que pátria haveria, sem futuro? 

E que Deus, por trás dos números, ainda haveria de respirar? Que Deus manda o silêncio como uma nova praga e que impede a verdade, sob o custo de tanto sacrifício? Que Deus é esse que se anuncia acima de todos mas promove a morte da maioria indefesa? Que Deus somado em cifras de minérios, de carvão, de dízimos e sangues?

Não leram o mínimo? Rui Barbosa, por exemplo: “pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade”. Pátria não é lema de governo e  nem Deus o é. Pátria e Deus... são floresta em pé, povo em pé, vida exuberante. 

Pátria é floresta. Não a comunhão da mentira que a morte avizinha com esse Deus de escravagistas e latifundiários. Não a lei alterada em reformas e decretos de ferro e fogo. Não a língua da intolerância que contamina o país pelas mãos da autoridade máxima e seus lacaios, todos os dias. Pátria é floresta, um dicionário inteiro feito de gentes, bichos, flores e frutos que levam a humanidade para o futuro. O resto é número. A pátria não. A pátria é esperança e verduras na paisagem. Pátria é floresta. 

E o povo que silencia, haverá de entender que serviu ao diabo. 










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