ME DEIXA PASSAR, POR FAVOR
Foto: Jose Luis Gonzalez/Reuters
O choro desesperado da mãe gualtemalteca e seu filho Anthony diante dos soldados norte-americanos armados é o símbolo máximo da desigualdade social. Ela vive na parte pobre de uma mesma geografia. Dois mundos divididos pela injustiça, pela miséria, pela exploração e pela falta de oportunidades. Uma mesma América, dois tipos de vida. Abaixo, os pobres choram com aquela senhora não só porque queiram acessar a vida dos ricos do outro lado, mas porque, atravessando a fronteira, querem servir-lhes. Preferem isso, a sofrer com a falta de esperança. Para isso, tentava vencer as dívidas.
Ela não estava sozinha. Antes dela, o salvadorenho Oscar Ramirez e sua filha Valéria morreram afogados enquanto tentavam a travessia. Nunca se construiu tantos muros para dividir esses dois mundos. Na Turquia com a Grécia, entre as duas Coréias, entre a Espanha e o Marrocos, entre tantos outras divisões, esses muros negam aos seres humanos o que foi cantado em verso e prosa desde a Revolução Francesa: a igualdade de direitos. Com isso, eles ferem os princípios básicos dos direitos humanos.
Estamos piores do que 1989, quando caiu o muro de Berlim. Naquela época eram 16 outros que precisavam ser derrubados. Ao invés disso, colocamos outras dezenas em pé (fala-se em 65 hoje em dia). Um deles quer separar Lety Pérez de seu sonho recobrindo mais de 1.6 mil quilômetros dos mais 3.1 mil que separam o México dos Estados Unidos. Com Lety e seu filho, rodam pelo mundo sem lugar para voltar cerca de 65,3 milhões de pessoas. A maior crise de refugiados desde a grande guerra. Gente que não migra porque quer, mas porque é forçado por políticas de exploração e depredação de seus territórios.
O mesmo Estados Unidos que impede milhares de pessoas de entrar no seu território, produz os motivos da migração, espalhando guerras e depredação ao redor do mundo. Historicamente, a América Latina tem sido explorada por empresas americanas que entram e saem com produtos e capital especulativo - não pessoas.
Se quisessem fazer algo importante, ao invés de construir muros, os Estados Unidos deveria contribuir para a diminuição das desigualdades, a geração de emprego e bem estar nos países vizinhos. Enquanto isso não acontecer, continuaremos ouvindo, sob impacto, o choro de Anthony - que, pelo nome, denuncia sua sina.
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