LÍDER SINDICAL É ASSASSINADO NO SUL DO PARÁ. MAIS UM.





Desde os anos 1980 acompanho a situação de violência no sul do Pará. Em 1994 visitei Rio Maria. Expedito Ribeiro tinha acabado de ser assassinado. Sua mulher e seus filhos ainda choravam, enquanto padre Ricardo Rezende estava ameaçado de morte e o saudoso frei Henri des Roziers encontrava-se sob escolta da polícia federal, já que seu nome constava na lista dos marcados para morrer. A gente não podia ir e voltar pela mesma rua. Havia medo em todas as esquinas.

Conheci o cemitério da cidade, onde haviam sido sepultados os presidentes do Sindicato de trabalhadores rurais que haviam sido assassinados. Todos os túmulos - pelo menos uns sete - estavam pintados de verde claro. Sobre eles, pendia uma cruz, onde estava escrita a passagem bíblica: “bem aventurados os que morrem por causa da justiça”. A imagem nunca me saiu da cabeça. 

Hoje mataram mais uma liderança. Carlos Cabral sofreu uma atentado a tiros próximo de sua casa, em Rio Maria. Segundo informações, dois homens em moto e com capacetes se aproximaram e dispararam contra Carlos, que foi atingido por 4 disparos, sendo um deles na cabeça. Ele foi socorrido mas não resistiu aos ferimentos.

Cabral também era Presidente do sindicato dos trabalhadores de Rio Maria, ex-genro do também sindicalista João Canuto, assassinado na década de 80. Na ocasião, Cabral havia sobrevivido a um atentado. Na mesma época, foram assassinados os irmãos Paulo e José Canuto, ambos cunhados de Carlos Cabral. 

Quem matou Carlos Cabral foi a impunidade, a mesma que matou centenas de lideranças e defensores de direitos humanos naquela região. É triste ver que a justiça brasileira continua fechando os olhos para os assassinos dos pobres: fazendeiros, depredadores ambientais, responsáveis pelo desmatamento da Amazônia legal e pelo trabalho escravo. 

Irmã Dorothy e Padre Josimo estão nessa longa lista de vítimas, à qual se junta agora Carlos Cabral, enquanto nós assistimos, estarrecidos, os fatos que comprovam de que lado a justiça brasileira está - e sempre esteve.







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