CORPO BONITO, DINHEIRO E FAMA. O que Aristóteles nos ensina sobre a felicidade?
(Imagem: Minjun Yue)
Um dos livros mais importantes da história da filosofia foi escrito pelo filósofo grego Aristóteles, no século IV antes de Cristo. Trata-se de “Ética a Nicômaco”, um tratado sobre a ação humana que tem como ponto de partida a ideia de que tudo o que nós fazemos deve ter em vista alguma forma de “bem” e que alguns bens são subordinados a outros, sendo que existe um bem último, um sumo bem (summum bonum)para o qual tudo o mais concorre. Para o filósofo, todo “bem” é o “fim” (a finalidade) da vida.
Ora, para que o bem seja alcançado, precisaríamos do apoio das “ciências”, cujo bem almejado é a sua finalidade. Ele dá exemplos: pensemos na ciência da medicina, ou da economia, ou da estratégia da guerra (o que, naquele tempo, era uma coisa muito importante). Qual é a finalidade dessas ciências? No caso da medicina, poderíamos dizer que é a saúde. Esse é um bem e ao mesmo tempo o fim da atuação dos médicos. Em outras palavras, dizer que um médico deve promover a saúde das pessoas, é reconhecer que esse é o bem que ele gera no mundo e que essa também é a finalidade de sua ação. O mesmo para economia: ninguém faz economia para ficar pobre, mas para promover a riqueza (qualquer coisa que entendamos por isso). No caso da guerra, fazemos estratégia para conquistar a vitória e não para perder a guerra. Isso significa que a vitória é o fim e ao mesmo tempo o bem da ciência da guerra.
Dessa forma, saúde, riqueza e vitória seriam bens menores, subordinados ao “sumo bem” que, para Aristóteles, é a felicidade. Em grego, felicidade se diz “eudaimonia” e significa afirmação plena daquilo que uma pessoa é. Ser feliz é ter condições de afirmar-se plenamente enquanto ser humano. E é óbvio que para isso precisamos de saúde, de condições materiais básicas, de reconhecimento por parte dos nossos pares, entre outras coisas. Ter essas coisas não é errado em si mesmo; errado seria confundir essas coisas com o sumo bem, ou seja, achar que elas são a finalidade da vida.
No mundo contemporâneo podemos dizer que as lições de Aristóteles assumem grande atualidade. Muita gente se empenha na conquista da saúde (associada a um corpo bonito), da riqueza (associada à posse de bens materiais) e a vitória (associada à ideia de sucesso profissional ou fama nas redes sociais). Um corpo bonito, dinheiro no banco e sucesso, portanto, podem ajudar, mas não dão garantia de felicidade. Eles são bem os menores e devem estar em função do sumo bem, que é a felicidade, cuja cuja ciência seria a ética.
A lição de Aristóteles é interessante porque ela nos ajuda a refletir sobre o que é prioritário na nossa vida. Muita gente esquece que a felicidade é mais importante do que o dinheiro, do que um corpo bem torneado ou do que milhões de likes em uma postagem. Nada disso tem valor por si mesmo; esses são meios para alcançarmos a felicidade, ela sim, a coisa mais importante, algo que, na maioria das vezes, também pode ser alcançado na vida simples, modesta e fora dos padrões de beleza.
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