SERIA EXAGERO USAR PRETO NO RÉVEILLON?
Estou me perguntando que
roupa usar no Réveillon desse ano. Dizem que as cores traduzem desejos e
sentimentos. Mas confesso que as perspectivas políticas me preenchem de medo.
Queria usar amarelo na festa. Afinal, precisamos ser práticos e pagar as contas desse negócio chamado vida. Mas suspeito que nem todo o amarelo do mundo vai convencer aquele “mentor” a orientar as políticas econômicas para o bem comum. Enquanto aplica as reformas neoliberais do lado de lá, do lado de cá haverá choro e ranger de dentes.
Pensei no verde. Mas lembrei logo da Amazônia desmatada, devastada, asfaltada, toda pasto, toda seca, com suas entranhas minerais expostas. Lembrei da desconfiança geral em relação à crise climática e que futuros ministros despreparados negam verdades cientificamente provadas por meio de opiniões descabidas e obscenamente xucras.
Talvez vermelho? Mas a paixão está controlada e, a depender do caso, proibida pelo jeito gospel de governar, que desqualifica as várias formas de amar em nome de um único ideal de família que nem seus próprios arautos praticam. Relações homoafetivas, a nudez dos corpos, as questões de gênero... tudo deve ir para a fogueira. Só uma forma de amor valerá a pena. E ela será praticada no novo pornô gospel, estrelado por aquele ator que agora é um deputado (convertido?).
Azul, quem sabe? Favorece o diálogo e a comunicação. Traz serenidade, dizem. Mas pensei nos ódios reinantes, nas frases de camisetas, nos gestos que imitam armas, na vontade de destruição dos adversários. Pensei na corrupção que ronda agora os queirozes silentes e a serviço da primeira dama, muito pouco transparente para quem fez curso de santa, véu e mão posta.
Ainda tem o branco, a mais óbvia e adequada das cores. Paz é o desejo número um de todo mundo no Réveillon. Mas ela é fruto da justiça, a gente aprendeu faz tempo. A justiça, por aqui, vai de mal a pior: seletiva, desavergonhada, partidarizada. O juiz que virou ministro muda seu discurso para se adequar ao novo status quo. A paz, nas suas mãos, ao que parece, será apenas mais uma guerra em que os cidadãos serão armados para fazer o que a polícia não fez. Estaremos no estado hobbesiano daqueles homens transformados em lobos uns dos outros.
Seria demais usar preto na festa da virada? Afinal, estamos indo para trás. Parece que o país inteiro vive de grosserias e asneiras. Tudo está do avesso. Intelectuais e artistas são acusados de “comunistas” (o novo adjetivo febril dos ignorantes alucinados que chegam ao Planalto) enquanto pastores e astrólogos alardeiam suas fanfarronices com a desenvoltura de velhos inquisidores. Feliz ano velho, Rubens Paiva.
Com que roupa eu vou? Por favor me ajude Noel Rosa.
Queria usar amarelo na festa. Afinal, precisamos ser práticos e pagar as contas desse negócio chamado vida. Mas suspeito que nem todo o amarelo do mundo vai convencer aquele “mentor” a orientar as políticas econômicas para o bem comum. Enquanto aplica as reformas neoliberais do lado de lá, do lado de cá haverá choro e ranger de dentes.
Pensei no verde. Mas lembrei logo da Amazônia desmatada, devastada, asfaltada, toda pasto, toda seca, com suas entranhas minerais expostas. Lembrei da desconfiança geral em relação à crise climática e que futuros ministros despreparados negam verdades cientificamente provadas por meio de opiniões descabidas e obscenamente xucras.
Talvez vermelho? Mas a paixão está controlada e, a depender do caso, proibida pelo jeito gospel de governar, que desqualifica as várias formas de amar em nome de um único ideal de família que nem seus próprios arautos praticam. Relações homoafetivas, a nudez dos corpos, as questões de gênero... tudo deve ir para a fogueira. Só uma forma de amor valerá a pena. E ela será praticada no novo pornô gospel, estrelado por aquele ator que agora é um deputado (convertido?).
Azul, quem sabe? Favorece o diálogo e a comunicação. Traz serenidade, dizem. Mas pensei nos ódios reinantes, nas frases de camisetas, nos gestos que imitam armas, na vontade de destruição dos adversários. Pensei na corrupção que ronda agora os queirozes silentes e a serviço da primeira dama, muito pouco transparente para quem fez curso de santa, véu e mão posta.
Ainda tem o branco, a mais óbvia e adequada das cores. Paz é o desejo número um de todo mundo no Réveillon. Mas ela é fruto da justiça, a gente aprendeu faz tempo. A justiça, por aqui, vai de mal a pior: seletiva, desavergonhada, partidarizada. O juiz que virou ministro muda seu discurso para se adequar ao novo status quo. A paz, nas suas mãos, ao que parece, será apenas mais uma guerra em que os cidadãos serão armados para fazer o que a polícia não fez. Estaremos no estado hobbesiano daqueles homens transformados em lobos uns dos outros.
Seria demais usar preto na festa da virada? Afinal, estamos indo para trás. Parece que o país inteiro vive de grosserias e asneiras. Tudo está do avesso. Intelectuais e artistas são acusados de “comunistas” (o novo adjetivo febril dos ignorantes alucinados que chegam ao Planalto) enquanto pastores e astrólogos alardeiam suas fanfarronices com a desenvoltura de velhos inquisidores. Feliz ano velho, Rubens Paiva.
Com que roupa eu vou? Por favor me ajude Noel Rosa.
Como sempre, Jelson, muito oportunas suas considerações. Uma análise que representa o estado de espirito de um grande número de brasileiros nessa transição 2018/2019. O interesante é que, no fundo, quase todos temos a esperança de que algo vai acontecer e que a situação não vai ser tão ruim. Vestir preto, seria aceitar a derrota, seria luto. Me parece que vestir esperança é mais adequado e, por baixo dela, disposição para o embate.
ResponderExcluirMuito obrigado. Grande abraço.
Excluir