BOLSONARO ABRIU A NOSSA CAIXA DE PANDORA

Diz o mito que Pandora foi a primeira mulher criada por Zeus e enviada aos homens como castigo porque eles aceitaram o fogo roubado por Prometeu. Pandora carregava uma caixa, que continha todos os males do mundo e, por isso, nunca poderia ser aberta. Ela contudo, tinha o grande defeito da curiosidade. Lá pelas tantas, como previam os deuses, abriu a caixa e espalhou os horrores sobre todos os horizontes.

Hoje no Brasil, Bolsonaro parece ter aberto a caixa de nossos horrores. Saiu de dentro o que temos de pior: o preconceito, a discriminação, o ódio, a violência, a barbárie. Em nome do direito de dizer o que pensamos, perdemos a lógica do respeito com o conteúdo do que é dito. Em nome do anti-petismo, nos tornamos inimigos dos gays, das mulheres, dos negros, dos indígenas e de todas as instituições que defendem os seus direitos. Porque não aceitamos perder os privilégios, nos tornamos inimigos dos pobres, dos que recebem bolsa-família e dos cotistas. Tudo alimentado por fake news enviadas pelos membros das mesmas bolhas sociais, onde cresce o pior dos males: a ignorância e a mentira cega e desavergonhada.

Tantos males sempre estiveram ali, nós sabemos, mas a caixa não poderia ser aberta. Havia que se respeitar as regras, tinha-se no mínimo, vergonha de dizer o que agora é alardeado aos quatro ventos. A caixa, quebrada, expôs o pior de nós. Xingamentos, atentados, ameaças, agressões se espalham por todo Brasil com a ousadia de quem encontrou em um candidato o apoio necessário para que tantos sentimentos ruins viessem a público. Quando tal candidato incentiva o uso de armas, promove o desrespeito contra os homossexuais, o estupro de mulheres, a tomada das terras indígenas, o fim das cotas para negros, a educação primária a distância, o cancelamento do investimento nas áreas de educação e humanidades... o que ele faz é incitar os cidadãos comuns a mostrar os seus horrores. O que antes devia ser guardado na caixa envenenada de suas entranhas podres agora aparece em praça pública. O que se vê, fede como alimento não digerido, amargo e rançoso.

Diz o mito que na caixa, Pandora ainda conseguiu prender o mal da esperança. Talvez ele, embora ainda um mal, há de nós salvar da barbárie. A esperança há de vencer o ódio.