QUEM FOI QUE ELEGEU O TEMER?
Ninguém, é fato. Ninguém elegeu o projeto político-econômico
em vigor. Ninguém deu um único voto para a reforma trabalhista, a reforma
previdenciária, o desmantelamento dos serviços públicos e das políticas de
distribuição de renda; ninguém votou para que o combustível subisse de preço,
as universidades fossem sucateadas e a saúde vivesse uma crise sem precedentes.
Nenhum voto elegeu o governo que aprovou leis que beneficiaram os
latifundiários, contra os indígenas, os sem terra, as comunidades tradicionais
e, principalmente, contra o meio-ambiente. Ninguém deu um único voto para que
esse governo pagasse com dinheiro público os seus lacaios, para que
acobertassem seus atos corruptos e, por duas vezes, apoiassem a sua
continuidade no poder.
Etc. e tal.
Há quem diga, contudo, que foram os eleitores da Dilma,
generalizados no enfadonho e descabido epítome de petista. A lógica seria a
seguinte: você é culpado porque casou com sua esposa quando, na verdade, queria
casar com a sogra. Rodrigo Oliveira, professor de filosofia em Curitiba, me deu
a deixa quando respondeu a uma dessas palermices postadas em seu facebook:
“alguém escolhe a esposa olhando para a sogra?” Mal comparando, alguém votou na
Dilma só porque queria o Temer? E mais: alguém votou mesmo no Temer? O chamado
“presidencialismo de coalizão”, termo criado em 1988 pelo cientista político
Sérgio Abranches, nos daria outra alternativa? E o próprio PT, a teria? Seria
possível governar sem as alianças e os acordos que levaram Temer à
vice-presidência? Essas são perguntas complexas, mas o certo é que, na história
recente, queiramos ou não, foi nesse tipo de sistema que votamos. Portanto,
votar na Dilma, era votar em um tipo de governo que se mantinha sustentado por
vários partidos. Votar na Dilma foi votar também nessa gente que, como se sabe,
mais tarde, votou contra ela mesma a fim de que o golpe se efetivasse. Golpe:
sim, porque não há outro substantivo capaz de definir o fato de que o
vice-presidente, o qual deveria manter os acordos e contribuir para a manutenção
da governabilidade, passa para o “outro lado”. Abandonada pela sua base de
apoio, Dilma foi também traída pelo Temer. Mas não só ela: todos os seus
eleitores, aqueles que, embora insatisfeitos, tinham votado nela – e, insisto,
não no Temer, cujos únicos votos recebidos, foram para ser vice de Dilma, um de
seus apoiadores e articuladores. Não presidente. Presidente não.
Quem levou Temer à presidência, afinal? Bom, há muitas
hipóteses. Mas o certo é que a contribuição dos uniformizados da CBF e suas
panelas barulhentas, foi imprescindível e decisiva. Quem levou o Temer à
presidência foram aqueles que, insatisfeitos com o preço da gasolina no governo
Dilma (quanto era mesmo? R$ 2,80?) e com outros pretensos “absurdos”, passaram
a esbravejar aqui e ali contra as políticas de inclusão social que, segundo
alguns, estavam patrocinando a crise e a corrupção. Fecharam os olhos para os
verdadeiros fatores (entre os quais estava o cenário internacional) e,
principalmente, não se importaram com a estabilidade da nossa jovem democracia.
Quem colocou Temer no poder foi Aécio, o playboy corrupto que encantou as
massas, o Alexandre Frota que subiu nos trios em defesa da moral. Aliás, quem
levou o Temer ao Palácio do Planalto sequer se perguntou se ele precisava de
algum voto para governar. Se para governar precisava-se de algum voto mesmo.
Voto? Para que, afinal? Quem levou o Temer ao poder estava se lixando com a
democracia. Eles colaram aquele adesivo da Dilma, pernas abertas, no tanque de
combustível de seu carro. Abasteciam a preços módicos se comparados com os de
agora, em direção ao estacionamento do shopping center, onde deixaram os automóveis,
bem guardados, enquanto seguiram para as manifestações, portando faixas a favor
da ditadura.
Os fatos que se seguiram ao impeachment, comprovaram não
apenas que as razões para a interdição de uma presidente legítima eram, no
mínimo, fracas e interesseiras (embora eu ache que sequer se justificavam como
razões), mas sobretudo, que tal ato não fortaleceu o regime democrático, ao
contrário, deixou o nosso país em frangalhos que nem uma geração inteira poderá
remendar.
Quem colocou Temer no poder não o fez porque queria se
livrar da corrupção, mas porque queria simplesmente manter seus privilégios de
elite. E conseguiram. Nenhuma voz mais se ouve contra a corrupção, a não ser
anêmicos elogios ao juiz-estrela, amigo do Doria, do Aécio e do Temer. A luta
contra a corrupção, agora, é apenas um adesivo verde-amarelo desgastado na traseira
do carro, que permanece ali apenas por vergonha ou por argumento contra a sua
própria letargia. Essa gente sim, elegeu Temer – e, ao contrário do que fizeram
com a Dilma, mantiveram ele no poder.
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