SIM, VAMOS ARMAR OS PROFESSORES
Enquanto no Brasil, a bancada da bala volta a discutir a
ideia absurda de flexibilizar as leis de posse de armas de fogo, nos Estados
Unidos o Senhor Trump anuncia a despautéria solução para combater os massacres nas
escolas norte-americanas: armar os professores. A fala, além de viperina e
quase ridícula, traduz a crise das autoridades parentais que esfola o mundo
contemporâneo e da qual o presidente Trump é um dos filhotes mais falastrões e
danosos. Trump quer armar os professores porque ele não acredita na educação,
mas apenas na força e na violência, que são o seu contrário. Junto com ele há
muita gente, com faixas a favor da militarização da sociedade, do estado de
exceção e das ditaduras grandes e pequenas que crescem no Brasil e fora dele. Com
Trump estão pais bedéis prontos para apontar o dedo contra aquele a quem a
sociedade confiou a sua tarefa mais importante. Em Londrina, norte do Paraná,
uma professora foi denunciada porque mostrou aos alunos diferentes modelos de
família; em Curitiba, um professor de história foi acusado de comunista porque escreveu
o nome do MST em uma prova; e foi também na capital do Estado que um pseudo-jornal
montou um sistema de denúncia contra professores por presumidas falas partidarizadas.
Nas redes sociais, uma publicação oferecia cinquenta reais para estudantes que delatassem
professores que estivessem fazendo o que o MBL chamou de “doutrinação
ideológica”. O professor é perseguido e vigiado, enquanto dele se exige mais do
que ele pode dar.
Por isso, parece mesmo que o professor precisa de uma arma.
Não uma que atire e mate, mas que proteja e eduque. Armemos os professores com salários
justos. Coloquemos as professoras em sala de aula armadas com materiais didático-pedagógicos
de qualidade, com metodologias ativas e inovadoras, apoiadas em tecnologias
educacionais viáveis e eficientes. Armemos os professores com o giz branco da
paz, que escreve o nome de nossas crianças, quase como uma palavra sagrada, que
traduz os mundos que queremos para o futuro. Armemos as professoras com livros,
tabletes e outros dispositivos capazes de aproximar os estudantes do
conhecimento a fim de que nasça a revolução mais séria e duradoura que uma nação
possa desejar. Armemos os professores com saberes, informações, competências,
valores e atitudes. Armemos as professoras com percepção, sensibilidade,
inteligência e capacidade de raciocínio. E ofereçamos cursos de tiro ao alvo,
como treinamento eficaz contra a cegueira, a ignorância e a submissão das
mentes juvenis. E nesses cursos, que ensinemos o perigoso ato da rebeldia, do
senso crítico, da dissonância e do dissenso.
Assim, armados, os professores e professoras adentrem nas
salas de aula de cabeça erguida, sorriso alto e plena autoestima. Nenhum medo,
nenhum pânico, nenhum sangue. Como profissional reflexivo, estimulador da
aprendizagem e agente de sua própria formação, sua arma seja o testemunho, o
conhecimento e a força de resistência. Nas suas mãos, um arsenal de atividades
lúdicas, exercícios criativos e significativos capazes de matar a preguiça e o
desinteresse e fomentar a participação, a autonomia e o senso crítico.
Sim, devemos armar os professores. Não com artefatos lançadores
de projéteis mortais capazes de transformar uma sala de aula em um campo de
guerra, mas com os únicos aparelhos capazes de trazer a desejada paz social,
aquela que nasce da justiça e dos outros valores que só a educação pode cultivar.
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