DIA DE CHUVA










Rente ao novembro do lírio
Se enterra, sangrada, a perícia da gota
Em miúdas fragilidades
Como quem conserta
O defeito dos meses.

Na curva do arame escoam olhares
Perseguindo a chuva.
Longe a rês se espanta.
Pássaro sem pouso circula
Como de susto.

Das vitrines do céu
Um diadema vermelho despenca
Em clarão desconhecido.
A chuva atira migalhas no açude,
Onde antigas fontes amputadas
Se debruçam lentas de carinho.

No longe, a vida se lava no mel.
O inseto apalpa nomenclaturas de flor
Fuçando tudo o que à terra desce:
O nervo, a cisma e a dor.

O corpo no espelho
Recolhe o feitiço.

No outro lado da gleba,
À espera, comovemos espigas.









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