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Mostrando postagens de abril, 2020

O FILÓSOFO NÃO SABE DOBRAR UM LENÇOL DE ELÁSTICO: SOBRE OS CORTES DE RECURSOS PARA A PESQUISA EM FILOSOFIA

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Parei de escrever meu artigo sobre a fenomenologia de Hans Jonas para recolher a roupa que eu mesmo coloquei e retirei da máquina de lavar na manhã de hoje. Demorei a achar os pares das meias e a acertar as orelhas das toalhas, mas confesso: o que realmente me deu trabalho foi dobrar aquele lençol de elástico. A tarefa é tão árdua - acreditem - que deu vontade de amaldiçoar quem inventou essa coisa tão favorável na cama mas desprovido de qualquer compreensibilidade doméstica na hora de ser guardado no armário. Fiquei pensando nessas tarefas complexas e ao mesmo tempo óbvias que o nosso dia-a-dia impõe e na dificuldade que temos, os pretensos pensadores e/ou intelectuais, para realizá-las. Lembrei do Tales, coitado, cuja queda naquela rua qualquer da Ásia Menor até hoje é motivo de riso. A jocosidade, contudo, permanece como um preconceito e se revela, não raramente, como motivo político que resulta na falta de investimentos dos governos na própria filosofia. Não gosto

ATÉ ONDE VAI O NOSSO DIREITO DE IR E VIR, COM UM VÍRUS A TIRACOLO?

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O ministro foi demitido, depois de várias semanas de polêmica. Aparentemente a causa da demissão é o direito de ir e vir, reivindicado pelo presidente da república como um item repentinamente  prioritário na sua agenda fraca e esquizofrênica. Ir e vir, nesse caso, inclui o risco de levar e trazer um vírus, de contaminar familiares, amigos e mesmo desconhecidos. Nas suas idas e vindas por Brasília, contradizendo as autoridades de saúde do mundo e fechando os olhos irresponsavelmente aos exemplos trágicos de tantos países, o chefe da nação agiu de acordo com sua opinião, como sempre sem base científica. Deu mau exemplo e, pior, colocou pessoas em perigo. Está para ser noticiado quantos daqueles que o acompanharam contraíram o coronavírus por culpa da caturrice planaltina. Em caso de tamanha emergência, o direito de ir e vir de um termina quando começa o direito do outro de permanecer saudável ou de não ser contaminado - pelo menos agora. Está em jogo mais do que os dados

APROVEITE A PANDEMIA E CONSERTE A VIDA. E JÁ QUE É PÁSCOA, RESSUSCITE.

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Aproveite a época e leve a vida para o conserto. Agora, que tem tempo, aperte novamente os parafusos. Torça cada um deles com o vagar das grandes tarefas. Azeite as juntas e troque todos os óleos do motor interior, há tempos carcomidos pela poluição da pressa e pela corrosão das velocidades. Aproveite e revise as engrenagens, seque os excessos e infunde silêncio onde tudo era rumor de engenho e agudo de buzinas. Aproveite e limpe os tímpanos, as vias respiratórias, as oleosidades interiores. Espiche os dedos dos pés e lembre que tem, por dentro, uma maravilhosa armadura de ossos, tecidos e nervos. Limpe a poeira dos olhos, lacrimejados dessas nódoas de passado incerto e ressentimentos não esquecidos. E, claro, lave as mãos de todas as culpas, porque nada pior do que carregar cadáveres de outras épocas em tempos de pandemia. Estacione. Pare por alguns instantes, aproveite o cansaço como único grão de certeza. Detenha-se diante das suas janelas e alongue o olhar o má