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Mostrando postagens de setembro, 2016

POR QUE "NOTÓRIO SABER" NÃO BASTA PARA SER PROFESSOR?

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A medida provisória do ensino médio publicada na semana passada, entre a barbaridade da forma e o absurdo do conteúdo, trouxe à tona uma visão conservadora de educação. Além de desvincular obrigatoriedades quanto ao que deve ser ensinado do ponto de vista das disciplinas, abriu as portas da escola para que pessoas sem preparação alguma, embora portadoras do famigerado “notório saber” possam ser professores do que bem entenderem. Essa expressão é tão equivocada, que fica difícil até decidir por onde começar. Pensemos em duas vias: primeiro dando ênfase ao notório ; depois, ao saber. O problema do "notório" Notório é o que é sabido, reconhecido, público. Por isso, ele é um conceito de tipo relacional. Depende sempre de um “juiz”: alguém reconhece outro alguém como portador de notoriedade, algo que deveria ser também evidente e inegável. Notório, afinal, é o que não pode ser contestado. Aumenta o problema se pensarmos que é algo abstrato e impalpável que está

A FILOSOFIA, ESSA INDESEJADA

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A filosofia, como disciplina escolar, tem sido uma indesejada. Passamos incontáveis horas estudando português e matemática quase sempre sem nos perguntarmos sobre a utilidade dessas coisas. Elas parecem óbvias, afinal, dizem alguns, para humanizar o ser humano, é preciso que ele saiba ler e contar. Uma visão, cá entre nós, bastante limitada e antiga, amplamente difundida desde o Iluminismo, como estratégia para nos tirar das trevas. Com a filosofia não é assim. Talvez porque essa seja a sua essência, ela é colocada sempre de novo à prova. Nenhuma outra disciplina precisa dizer tanto e de tantas formas a que veio como a filosofia. Nenhum outro professor precisa entrar em sala de aula aparelhado de tantas desculpas e justificativas (“gente, absolvam-me, isso é bom pra vocês, acreditem e... me suportem!”). E por isso, como sabem os meus colegas, nenhum outro professor é tão seriamente avaliado, criticado, exposto. O professor de filosofia está sempre nu, como aquele santo en

SOBRE FATOS E CONVICÇÕES

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Quem já leu o romance O nome da Rosa , de Umberto Eco, ou pelo menos já assistiu o filme dirigido por Jean-Jacques Annaud, há de lembrar facilmente que um dos principais argumentos da obra é a luta entre a convicção e os fatos. Com essas duas ideias, Eco resume o conflito entre um modo pretensamente medieval de pensar (tudo bem, ele recorre ao velho estereótipo!) e aquele que seria o método moderno de acessar a verdade. Sete monges mortos em sete noites seguidas naquela abadia de fim de mundo, cercada de infinitos mistérios: diante dos acontecimentos, a convicção se utilizava dos argumentos disponíveis à época: culpa do diabo, ação do demônio, algum tipo de castigo divino. Até que o frade Guilherme de Baskerville e seu aprendiz, insatisfeitos com as convicções corriqueiras, iniciam uma longa trajetória de investigação, reunindo evidências e dando preferência aos fatos. Não demorou para serem envolvidos em uma trama de medos e vinganças que se resume em torno do famoso li