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Mostrando postagens de agosto, 2016

SOBRE O VALOR DA VISITA

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Em época de campanha, vejo candidatos deixando seus gabinetes refrigerados para visitar o povo do qual depende o seu futuro. Muitas vezes, certamente pela falta de costume, muita coisa dá errada e eles nos brindam com cenas que vão do ridículo ao hilário. Fiquei pensando sobre o valor da visita na nossa cultura e sobre como visitar é um costume enfraquecido no mundo contemporâneo, embora a tecnologia tenha usado metáforas como visita ou navegação para descrever a interação do mundo virtual.   Na minha infância, a notícia chegava pela boca de um irmão mais novo, enquanto a gente chegava da escola: “tem visita em casa!”. Pronto. Mundos ruíam. Perdia-se o rumo, ainda mais quando o visitante não era conhecido. No geral, a timidez obrigava a gente a entrar pela porta dos fundos, apagando os próprios rastros com um silêncio sepulcral e uma invisibilidade quase sempre ineficaz. Onde eu vivo, em Curitiba, somos famosos por procrastinar as visitas o quanto podemos, por meio de se

DIA DE CHUVA

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Rente ao novembro do lírio Se enterra, sangrada, a perícia da gota Em miúdas fragilidades Como quem conserta O defeito dos meses. Na curva do arame escoam olhares Perseguindo a chuva. Longe a rês se espanta. Pássaro sem pouso circula Como de susto. Das vitrines do céu Um diadema vermelho despenca Em clarão desconhecido. A chuva atira migalhas no açude, Onde antigas fontes amputadas Se debruçam lentas de carinho. No longe, a vida se lava no mel. O inseto apalpa nomenclaturas de flor Fuçando tudo o que à terra desce: O nervo, a cisma e a dor. O corpo no espelho Recolhe o feitiço. No outro lado da gleba, À espera, comovemos espigas.

NÃO, A CULPA NÃO É DAS MULHERES.

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“Foi pela mulher que começou o pecado,  por sua culpa todos morremos” (Eclo 25,24) Não é de hoje. Quando os gregos quiseram explicar a origem dos males do mundo, não hesitaram em responsabilizar Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, a quem foi dado um jarro que continha coisas lindas e maravilhosas, mas nunca poderia ser aberto. Como acontece em quase todos os mitos, as mulheres são sempre sedutoras e curiosas. Pandora foi criada como castigo aos homens, depois que Prometeu roubou o fogo dos deuses. A simbologia revela, sem meias palavras, que estão contrapostos aqui a racionalidade prometeico-masculina e a sedução pandórico-feminina: um jarro de coisas maravilhosas, mas intocáveis, é o pior dos castigos ao homem que objetifica o que a mulher carrega entre as pernas. A sedução, por isso, aparece como castigo e desvio à razão iluminada. À mulher, que nunca tem razão, resta seduzir. Mas Pandora, como várias outras mulheres mitológicas, carrega essa que seria um

É TUDO CULPA DAS MULHERES

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"Adão e Eva no Paraíso", de Lucas Cranach, 1526 “Foi pela mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos” (Eclo 25,24) Não é de hoje. Quando os gregos quiseram explicar a origem dos males do mundo, não hesitaram em responsabilizar Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, a quem foi dado um jarro que continha coisas lindas e maravilhosas, mas nunca poderia ser aberto. Como acontece em quase todos os mitos, as mulheres são sempre sedutoras e curiosas. Pandora foi criada como castigo aos homens, depois que Prometeu roubou o fogo dos deuses. A simbologia revela, sem meias palavras, que estão contrapostos aqui a racionalidade prometeico-masculina e a sedução pandórico-feminina: um jarro de coisas maravilhosas, mas intocáveis, é o pior dos castigos ao homem que objetifica o que a mulher carrega entre as pernas. A sedução, por isso, aparece como castigo e desvio à razão iluminada. À mulher, que nunca tem razão, resta seduzir. Mas Pandora, co