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Mostrando postagens de março, 2016

SOBRE A MODA, AS CHUVAS E A ESPERANÇA

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“Tá chovendo aí?” Quando ela liga, para saber como a gente está, uma das primeiras perguntas é sempre essa. Virou até gracejo entre nós. No meio da conversa, entre uma notícia e outra, basta alguém lançar a interrogação e a gente se derrete em gargalhadas. Graças à parte, preciso reconhecer: minha tia pergunta, porque sabe da importância da chuva para minha família. Ela vive no Rio Grande do Sul, meus pais migrantes, no Tocantins. As chuvas, no Norte, têm função decisiva na vida das pessoas. Por lá, seis meses de estiagem alimentam saudades de dilúvios. Pudera: sob um sol abrasivo, os dias são corrosíveis ardumes, metade deles sacudidos por um vento aceso e desconfiado que arremessa para o alto a poeira rubente das estradas e, aos poucos, abate a esperança das gentes contra horizontes borrados de calor e luz. O ar quente enxuga a tez e repele as nuvens. Tudo se aninha próximo ao desalento, cheio de preguiceiras. No meio da secura todos os seres ficam minguados. At

A MOÇA ME CHAMOU DE OTÁRIO. VOLTEI PARA AGRADECER.

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Eu sei, já está parecendo normal. Quando lemos alguma coisa sobre a atual conjuntura política, caso isso não seja do nosso agrado, parece obrigatório que a gente reaja com algum tipo de obscenidade. Não nos passa pela cabeça ler com respeito o que o outro está dizendo e, quem sabe, colocar em xeque as nossas próprias certezas. O calor da hora nos impede de digerir. Dispépticos, saímos para o ataque esquecendo a receita do velho Sócrates, o mais sábio de todos, que às vésperas da cicuta, declarou que nada sabia, dando azo ao melhor exercício de sabedoria. Pois bem. Declarar sua posição política virou delinquência e, como tal, deve ser punida com impropérios descontrolados e ofensivas de todo tipo. Uma amiga professora foi agredida porque não buzinou a favor dos manifestantes. Outro quase apanhou no banco porque lembrou que a pena de morte não está instalada no Brasil - nem contra os políticos. Outra quase foi atropelada por um carro que participava de uma m

A BONECA SEXUAL DE DESCARTES (E A CRISE BRASILEIRA)

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A vida sexual dos filósofos é um assunto no mínimo curioso. Muita gente gosta de entrar pela porta dos fundos da filosofia e ver o que seres pretensamente tão racionais fazem nas horas vagas. René Descartes, por exemplo, nos oferece um precioso material sobre o assunto. Consta que, em 1649, durante sua viagem à Suécia, a convite da rainha Cristina, que queria aprender sobre o sexo e outras paixões, marinheiros teriam descoberto em sua cabine uma “Dame de Voyage ”, como eram chamadas na época as bonecas sexuais. A “moça” chamava-se Francine, nome da filha mais jovem do filósofo, com quem ele teria declarado estar viajando, ainda que ninguém jamais tivesse posto os olhos na menina. A boneca, encontrada pelos marujos dentro de uma caixa depois de uma tempestade, teria sido fabricada pelo próprio filósofo em couro e metal, e se movimentava e “comportava” exatamente como humana, tal era a perfeição da arte. Francine era uma espécie de máquina, um autômato, um androide prim