SOBRE A MODA, AS CHUVAS E A ESPERANÇA
“Tá chovendo aí?” Quando ela liga, para saber como a gente está, uma das primeiras perguntas é sempre essa. Virou até gracejo entre nós. No meio da conversa, entre uma notícia e outra, basta alguém lançar a interrogação e a gente se derrete em gargalhadas. Graças à parte, preciso reconhecer: minha tia pergunta, porque sabe da importância da chuva para minha família. Ela vive no Rio Grande do Sul, meus pais migrantes, no Tocantins. As chuvas, no Norte, têm função decisiva na vida das pessoas. Por lá, seis meses de estiagem alimentam saudades de dilúvios. Pudera: sob um sol abrasivo, os dias são corrosíveis ardumes, metade deles sacudidos por um vento aceso e desconfiado que arremessa para o alto a poeira rubente das estradas e, aos poucos, abate a esperança das gentes contra horizontes borrados de calor e luz. O ar quente enxuga a tez e repele as nuvens. Tudo se aninha próximo ao desalento, cheio de preguiceiras. No meio da secura todos os seres ficam minguados. At