MINHA VIDA COM O PLÍNIO - primeiro capítulo
Todos nós somos um poço de águas desconhecidas. Não sabemos das funduras até que elas nos olhem de volta e que algum reflexo de lá alcance nossos olhos miúdos, cansados da planície seca. Dentro, no fundo escuro, guardamos sentimentos, impulsos e afetos que vez ou outra, sem que a gente saiba porque, vêm à tona. Chamam isso de inconsciente. Força escura, insaciável, meio descontrolada. Foi isso que me aconteceu no início de agosto, quando eu vi pela primeira vez aquele filhotinho de Shitszu que eu batizei como Plínio, em homenagem ao filósofo naturalista romano, crítico das extravagâncias, que morreu de curiosidade visitando o Vesúvio em chamas. No olhar do Plínio sobre mim acabei por ver as minhas próprias funduras. Com o tempo eu entendi. Plínio vive em silêncio e passa os dias à minha espera. E é sob esse olhar absolutamente despretensioso que eu vou sentindo em mim coisas que eu não conhecia. Só quem tem um animalzinho como esse talvez entenda o que eu tento dizer (e fra