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Mostrando postagens de novembro, 2016

A INVASÃO DA CÂMARA E A EXECRÁVEL IGNORÂNCIA ATIVA DOS IMBECIS

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“ Santa simplicitas! ” Esse é o título do aforismo 24 de Além de bem e mal , obra publicada por Nietzsche em 1886. O texto fala da ignorância, da “vontade de não-saber”, da incerteza e da inverdade que orientam os atos humanos. O filósofo acredita que muitas vezes mantemos propositalmente a nossa ignorância para “gozar de uma quase inconcebível liberdade” que se mistura com boa dose de irresponsabilidade, imprevidência e despreocupação com as consequências das nossas ações. Guiados pela ignorância, agimos sem pudor, aliviados de qualquer sentimento de culpa. Se isso pode ser interessante do ponto de vista interno da crítica nietzschiana à moral de rebanho, tem consequências danosas no campo da política, por exemplo. Pensada nesse contexto, a frase de Nietzsche soa mesmo como ironia terrível, na medida em que a exclamação faz referência a uma frase de Juan Hus (1369-1415), um reformador religioso precursor do movimento protestante, excomungado pela Igreja e condenado pela inq

ELZA SOARES, UMA LIÇÃO DE ARTE E CIDADANIA

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Boiando no breu, Elza Soares cantou em Londres hoje à noite, como parte da programação do London Jazz Festival, para uma plateia volumosa e extasiada. Já na entrada do grande teatro do Barbican, li uma frase de Hans Christian Andersen, que soou como uma espécie de prelúdio em tons schopenhaurianos: “onde as palavras falham, a música fala”. A música de Elza falou. E muito. Seu show é uma aula de dignidade, uma lição descomedida de cidadania e, sobretudo, uma experiência vertiginosa de arte pura. Tudo como deveria ser para essa “mulher do fim do mundo”, título da canção de Rômulo Fróes que dá nome ao show idealizado por Guilherme Kastrup. Quando moralismos e muros, preconceitos e xenofobias, machismos e intolerâncias medram ao redor do mundo, Elza sentou-se como rainha negra do Brasil para falar dos direitos das mulheres. Mergulhada na luz, ela cantou contra o racismo, falou de sexo com a desenvoltura que lhe é própria, mas que não deixa de soar espantosa, levando-se e

O PERIGO NÃO É SÓ TRUMP, MAS QUEM GANHOU COM ELE

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Não quero falar sobre a verborragia, os insultos e a estupidez dele. Nem lembrar que ele foi tirado da escola aos 13 anos por ter batido em seu professor. Nem que ele é um magnata que embarca em qualquer ideologia política de direita com a mesma desenvoltura que sobe em seu Boeing 757 privado. Não quero escrever sobre esse homem que promete impedir o Acordo de Paris, erguer um muro contra o México e perseguir imigrantes e outros indesejados. Nem escrever que ele sonegou impostos durante anos e se achou inteligente por isso. Nem sobre seu fascismo descarado, sua misoginia, homofobia e todas as doenças que deviam estar sepultadas no mundo de hoje, mas não. Nem sobre o estrago nas bolsas que a sua eleição provocou. Nem sobre o silêncio e o susto estampado no rosto de qualquer pessoa decente. Não. O que mais me preocupa não é necessariamente a vitória desse homem, possibilidade já premeditada na escolha do menos pior entre dois. O que mais me preocupa é quem ganhou com ele,